A formação de professores no Brasil é um dos pilares fundamentais para o desenvolvimento social, econômico e cultural do país. No entanto, ainda estamos distantes de oferecer a esses profissionais a estrutura, os conhecimentos e o reconhecimento que realmente merecem.
Os desafios começam na formação inicial e se estendem ao longo de toda a carreira, impactando diretamente a qualidade da educação oferecida a milhões de estudantes em todo o território nacional. Em um cenário de desigualdade, baixos salários e pouca valorização social, pensar no futuro da educação é, antes de tudo, pensar em quem a torna possível: o professor.
Retrato da formação docente no Brasil

A realidade da formação de professores no Brasil é marcada por desigualdades profundas e estruturais. Enquanto alguns centros urbanos oferecem cursos de licenciatura com infraestrutura adequada e acesso a experiências pedagógicas significativas, muitas regiões do interior enfrentam graves carências, tanto em relação a recursos quanto à qualidade da formação.
Grande parte dos professores brasileiros se forma em instituições privadas, muitas vezes com cursos de baixo custo e pouca exigência acadêmica, o que compromete diretamente a preparação desses profissionais para os desafios em sala de aula. A formação inicial, em vez de preparar o professor para lidar com contextos diversos, costuma ser generalista, teórica e desconectada da realidade das escolas públicas.
Além disso, é preciso considerar o descompasso entre a formação universitária e as exigências do cotidiano escolar. Muitos professores chegam à sala de aula sem experiência prática, com pouco domínio das tecnologias educacionais ou sem formação específica para lidar com questões como inclusão, diversidade e defasagem escolar.
Essa lacuna entre teoria e prática gera insegurança e frustração nos primeiros anos de carreira, levando a um alto índice de desistência da profissão. O Brasil vive uma crise de identidade docente: há cada vez menos jovens interessados em seguir esse caminho, ao mesmo tempo em que os profissionais que permanecem enfrentam desvalorização salarial e emocional.
Outro fator que contribui para o cenário desafiador é a ausência de uma política nacional sólida e contínua de formação de professores. Mudanças frequentes nas diretrizes curriculares, cortes de verbas e descontinuidade de programas federais dificultam o avanço de projetos de longo prazo.
Enquanto isso, os professores seguem tentando se reinventar por conta própria, muitas vezes investindo recursos próprios em cursos, livros e ferramentas. Em um país onde a desigualdade educacional é uma das maiores do mundo, não há como avançar sem priorizar quem está à frente do processo de ensino.
Obstáculos no desenvolvimento profissional contínuo
Após a formação inicial, o percurso do professor continua sendo cheio de barreiras. A formação continuada, fundamental para a atualização e o aprimoramento dos educadores, ainda é tratada como um complemento opcional, quando deveria ser parte integrante e estruturada da carreira docente.
Muitos profissionais não têm acesso regular a cursos de capacitação de qualidade, seja por falta de tempo, de recursos ou de apoio institucional. Em escolas com escassez de professores, é comum que a sobrecarga de trabalho impeça qualquer tipo de formação extra, o que gera um ciclo vicioso de estagnação e desmotivação.
A ausência de uma política clara de valorização do desenvolvimento profissional também contribui para esse cenário. Mesmo quando os professores buscam aprimoramento por conta própria, nem sempre há reconhecimento ou retorno institucional. Promoções, gratificações e progressões na carreira estão raramente ligadas a melhorias reais no desempenho ou à ampliação de competências.
Ademais, a formação continuada precisa ser pensada de forma estratégica, levando em conta os contextos específicos de cada região e escola. Não adianta oferecer cursos genéricos e descolados da realidade vivida pelos professores, sobretudo aqueles que atuam em áreas de vulnerabilidade social.
É preciso escutá-los, entender suas demandas e oferecer formações que realmente dialoguem com os desafios enfrentados em sala de aula. Além disso, o uso de tecnologias deve ser aliado — não substituto — da prática docente. A pandemia escancarou a urgência de preparar os professores para o ensino híbrido e digital, mas muitos ainda não tiveram a oportunidade de aprender a utilizar essas ferramentas de forma pedagógica e eficiente.
Caminhos possíveis para preparar os educadores do futuro
Apesar das dificuldades, há soluções concretas e promissoras para reverter esse cenário. Um dos primeiros passos é fortalecer os cursos de licenciatura, garantindo qualidade mínima em todas as instituições de ensino superior. Esse processo passa por revisar currículos, incluir práticas desde o início da formação, promover estágios supervisionados e estreitar os laços entre universidades e escolas públicas.
É fundamental que a universidade forme professores capazes de atuar criticamente e com sensibilidade frente às múltiplas realidades educacionais do país. Mais do que conteúdo, é preciso formar educadores com escuta ativa, empatia e compromisso com a transformação social.
O investimento na formação continuada precisa deixar de ser uma promessa e se tornar uma política de Estado, incluindo a garantia de jornadas de trabalho que contemplem momentos dedicados ao estudo, à reflexão e à troca de experiências, bem como remuneração adequada para que o professor possa se dedicar integralmente à sua prática pedagógica.
A criação de centros de formação regionalizados, conectados com as demandas locais, pode ser um caminho eficaz para promover capacitações relevantes e acessíveis. A tecnologia também deve ser utilizada de forma inclusiva, ampliando o alcance das formações sem substituir a mediação humana, que continua sendo insubstituível.
Outro ponto crucial é a valorização simbólica e social da profissão docente. A sociedade precisa enxergar o professor como agente de transformação, e não apenas como executor de conteúdos. Isso se faz com campanhas públicas, com incentivo à leitura e à escuta de professores na mídia, com políticas salariais mais justas e com a construção de um ambiente escolar mais acolhedor.
É preciso recuperar o orgulho de ser professor e fazer com que as novas gerações queiram trilhar esse caminho. Para isso, não basta apenas melhorar a formação: é necessário garantir condições de trabalho dignas, respeito profissional e autonomia para que o educador exerça seu papel com excelência.
Se o Brasil quer construir uma educação de qualidade para todos, precisa começar pelos professores. Investir em sua formação, apoiar sua trajetória e reconhecer seu valor são ações urgentes e inadiáveis. Formar bem não é apenas ensinar a ensinar — é preparar cidadãos que tenham a coragem e a competência de inspirar, liderar e transformar vidas todos os dias dentro de uma sala de aula.